1486 mission to Benin


1486 Ruy de Pina: Discovery of Benin — Chronica del Rey João II, ch. 24 (MMA, I, 52; Coimbra, 1950, pp. 74-5)

Neste anno foy primeiramente descuberta a terra do Beny aalem da Myna, nos Rios dos Escrauos, per Joham Affom da Aveiro, que lá falleceo, donde a estes Regnos veeo a primeira pimenta de Guinee, de que auia naquella terra per nacença muita quantidade; cujas mostras foram logo emuidas a Framdes, e a outras partes, e foy logo auida em grande preço e estima.

E ho Rey do Beny, emuyou a elRey hũ Negro seu Capitam dhuũ lugar de porto do mar, que se diz Vgato, com embaixada, desejoso de saber nouas destas terras, cujas gentes ouueram lá por grande nouidade. Era este Embaixador homê de bõo repouso e natural saber; foramlhe fectas grandes festas, e mostradas muitas cousas das boas destes Regnos. E foy retornado a sua terra, em nauios delRey, que aa sua partida lhe fez mercee de vestidos ricos pera elle e sua molher. E assy emuiou per elle ao Rey, huũ rico presente de cousas que elle entendeo que muito estimaria. E asy santos e mui catolicos conselhos, com louuadas amoestações pera a Fé, reprendendoo muito, as heresias, e grandes ydolatrias e feitiçarias de que naquella terra os negros muito usam.

E cõ elle forã fogo nouos Feitores delRey, pera lá estarem, e resgatarê a dicta pimênta, e assi alguũas outras cousas, que pera os tratos delRy pertenciam. Mas por a terra se achar despois de muito perygo, de doenças, e nam tanto proueito como se esperaua, o trato se desfez.

1486 João de Barros: The Oba of Benin asks for missionariesAsia, decada I, 54, ch. 3 (MMA, I, 53; ed. H. Cidado, Lisbon, 1945, v. 1, pp. 88)

E quanto fructificou em louvor de Deos a Christandade destes homens de Congo, pela conversão do seu Rey, (como adiante veremos,) tão pouco aproveitou o que ElRey fez em o requerimento delRey de Benij, cujo Reyno jaz entre o Reyno de Congo, e o Castello de S. Jorge da Mina; porque neste tempo em que Diogo Cam veio da primeira vez de Congo, que foi no anno de quatrocentos oitenta e seis: tambem este Rey de Benij mandou pedir a ElRey, que lhe mandasse lá sacerdotes pera o doctrinarem em fé, sendo já vindo o anno passado hum Fernão do Pó, que tambem com esta costa descubrio a Ilha, que se ora chama do seu nome, que está vizinha á terra firme, a qual por sua grandeza elle chamou a Ilha Fermosa, e ella perdeo este, e ficou com o nome do seu descubridor. Este Embaixador delRey de Benij trouxeo-o João Affonso d'Aveiro, que era ido a descubrir esta costa per mandado delRey; e assi trouxe a primeira pimenta que veio daquellas partes de Guiné a este Reyno, a que nós ora chamamos de Rabo, pola differença que tem da outra da India, por nella vir pegado o pé em que nasce, a qual ElRey mandou a Frandes, mas não foi tida em tanta estima como a da India.

1486 João de Barros: Pre-Protuguese Christian influence in BeninAsia, decada I, 54, ch. 4 (Lisbon, 1945, v. 1, pp. 90-91)

Entre muitas cousas que el-Rey dom João soube do embaixador del-Rei de Beni, e assi de João Afonso de Aveiro, das que lhe contraram os moradores daquelas partes, foi que, ao Oriente del-Rei de Beni, per vinte lũas de andadura que, segundo a conta dêles e do pouco caminho que andam, podiam ser até duzentas e cinqüenta léguas das nossas, havia um Rei, o mais poderoso daquelas partes, a que êles chamavam Ogané, que entre os príncipes pagãos das comarcas de Beni era havido em tanta veneração, como acêrca de nós os Sumos Pontifices. Ao qual per costume antiquíssio os Reis de Beni, quando novamente reinavam, enviavam seus embaixadores com grã presente, notificando-lhe como, per falecimento de Fuão, sucederam naquele reino de Beni, no qual lhe pediam que os houvesse por confirmados. Em sinal da qual confirmação, êste príncipe Ogané lhes mandava um bordão e ũa cobertura da cabeça, da feição dos capacetes de Espanha, tudo de latão luzente, em lugar de cetro e coroa, e assi lhe enviava ũa cruz do mesmo latão luzente pera trazer ao pescoço, como cousa religiosa e santa, da feição das que trazem os comendadores da Ordem de São João, sem as quais peças o vovo havia que não reinavam justamente nem se podiam chamar verdadeiros reis. E em todo o tempo que êste embaixador andava na côrte dêste Ogané, como cousa religiosa nunca era visto dêle, sòmente via ũas cortinas de sêda em que êle andava metido; e ao tempo que despachavam o embaixador, de dentro das cortinas lhe mostravam um pé, em sinal que estava ali dentro e concedia nas peças que levava, ao qual pé faziam reverência como a cousa santa. E também, em modo de prémio do trabalho de tanto caminho, era dada ao embaixador ũa cruz pequena, da feição da que levava pera el-Rei que lhe lançavam ao colo, com a qual êle ficava livre e isento de tôda servidao, e privilegiado na terra donde era natural, ao modo que entre nós são os comendadores.

Sabendo eu isto, pera com mais verdade o poder escrever (peró que el-Rei Dom João em seu tempo o tinha bem inquirido), ao ano de quinhentos e corenta, vindo a êste reino certos embaixadores del-Rei de Beni, trazia um dêles, que seria homem de setenta anos, ũa cruz destas; e perguntando-lhe eu por a causa dela, respondeu conforme ao acima ascrito. E porque neste tempo del-Rei Dom João, quando falavam na Índia, sempre era nomeado um rei mui poderosa a que chamavam Preste João das Índias, o qual diziam ser cristão, parecia a el-Rei que, per via dêste, podia ter algũa entrada na Índia. Porque per os abexis religiosos que vêem a estas partes de Espanha, e assi per alguns frades que de cá foram a Jerusalém, a que êle encomendou que se informassem dêste príncipe, tinha salido que seu estado era a terra que estava sôbre Egipto, a qual se estendia té o mar do Sul. Donde, tomando el-Rei com os cosmógrafos dêste reino a tábua geral de Ptolomeu da descrição de tôda África, e os padrões da costa dela, segundo per os seus descobridores estavam arrumados, e assi a distância de duzentas e cinqüenta léguas pera Leste, onde êstes de Beni diziam ser o estado do príncipe Ogané, achavam que êle devia ser o Preste João, por ambos andarem metidos em cortinas de sêda, e trazerem o sinal da cruz em grande veneração. E também lhe parecia que, prosseguindo os seus navios a costa que iam descobrindo, não podiam leixar de dar na terra onde estava o Praso Promontório, fim daquela terra.

Assi que, conferindo tôdas estas cousas que o mais acendiam em desejo do descobrimento da Índia determinou de enviar, logo neste ano de quatrocentos e oitenta e seis, dobrados navios per mar e homens per terra, pera ver o fim destas cousas, que lhe tanta esperança davam.

1494 Jerome Münzer: Native priests ordained — MMA, IV, pp. 16-20, part 18; Itinerário do Dr. Jerónimo Münzer (Coimbra, 1932), pp. 59-63

Misit autem [Rex Johannes II] iam noviter presbyteros nigros, quos ex pueris in Lisbona institui fecit, et eos insulae [S. Thomae] ut doctores christianos praefecti. Et sperandum est, quo successu temporis maior pars Aethiopiae deveniet ad religionem christianam.

Portuguese trade with Ijebu: Duarte Pacheco Pereira, written ca. 1508

Soomente ser avisado ho piloto que partir da Mina em busca do Ro do Laguo, que vaa demandar ho cabo de Sam Paulo e d'aly faça seu caminho ao longuo da costa em lesnordeste, e yrá ter na boca d'este Rio, o qual tem hũa boca muito pequena, e no canal haverá duas braças d'auguoa de preamar, e tem ha entrada muito perigosa de baixos de area, onde o mais do tempo do anno quebra ho mar, que quasy nam parece ho canal, e aquy nam podem entrar senam navios pequenos de trinta atee cinco tonees; e como homêe he da boca pera dentro, loguo se faz hũa muito grande aluguoa, que tem mais de duas leguoas em larguo e outras tantas em longuo, e doze ou treze leguoas per per este Rio acima he achada hũa grande ciudade, que se chama Geebu, a qual he cercada de hũa muito grande cava; e ho Rio d'esta terra aguora em nossas dias se chama Agusale; e ho commercio que aquy pode haver, sam escravos, que se vendem por manilhas de latam a doze e quinze manilhas a peça, e a1guũs dentes de elefantes.
[Robin Law, "Early European sources on Ijebu," History in Africa, 13 (1986), p. 246, notes that the Portuguese "rio" (river) must be a confusion with "rey" (king), and "Agusale" stands for "Awujale", the title of the king.]


1514 mission to Benin


20-11-1514 King Manuel: to the Oba of Benin on sending priests — ATT-Fragmentos, Maço 9 (MMA, IV, pp. 88-90) Poderoso e nobre Rey do Beny. Nós Dom Manuell, per graça de Deus Rey de Purtugall, e dos Allgarues, daqueem e dallem mar, em Africa, Senhor de Guinee, e da comquista, nauegaçam, comerçio de Etiopia, Arabia, Persya, e da Jmdia. Vos fazemos saber que ouuimos Dom Jorge, vosso embaixador, em todo o que de vosa parte nos fallou, e muyto nos prouue com sua vynda a nós, pera por elle sabeermos a booa vomtade que dizees que teemdes pera as cousas de noso seruiço. E reçebeemos muyto prazer com todo o que de vosa vomtade nos dise.

E çerto que pollo dessejo que senpre teuemos de em todas voas coussas aproueytar, vós teemdes rezam de todas as nosas e de noso seruiço fazer, asy como se fosem vosas proprias. Porque nũqua, louuores a Deus, nhũ Rey, asy em Guinee como nas Jndias e nas outras partes de mais lomge, se arrependerã de connosco teer amizdade, amtes seenpre follgaram e follgam de muy mais [a] acreçemtar e nós de com elles a comseruar, com merçees e boãs obras que lhe fazeemos, como nos prazerá o fazer a vós, se açerqua de nossas cousas fezerdes o que deueês como Rey nosso amiguo, como nós creemos que vós soeês, posto que nos años pasados, outra emformaçã teueseemos e o visymos com obras.

Porem nosa vomtade nũqua hé de a nosos amiguos e serujdores leixarmos de reçebeer em nosa amizade e serujço quando de seus erros se conheçem e com fieldade e verdade, a nós se tornã e por enxenpro do que noso Senhor Deus todo poderoso seenpre [...] os sque comtra elle erram [...]... as outras partes muyto mais lomge, homde mamdamos nosas geemtes e armadas, por que nisso servimos a Deus nosso Senhor no acreçemtamêto de sua samta fee, a que mais obrigados somos do que a nhuũa outra cousa deste mumdo e aproveytamos as allmas daquelles que do conheçimêto de sua fee são apartados. Porque todas aquellas que na fee de Jhesuũ Christo nosso Senhor nam acabam, sam seenpre perdidas no foguo do Jmferno e aquelles que no conheçimêto della morrê vivê pera seenpre na gloria, e bem avêturança do paraysso.

E por tamto com muy booã vomtade vos emviamos os cleriguos que nos emviastes pidir; os quaeês leuã todas as cousas que sam neçesareas pera vos emsynarê e asy vosas gemtes ao conheçimêto de nosa fee. E esperamos em noso Senhor que vos dará sua graça pera ho conheçerdes e nella vos salluardes - que as cousas deste mumdo todas pasam e as do outro duram pera seenpre. E muyto vos encomêdamos que assy folguees de reçeber os emsynos da fee dos christãos, que tenhamos rezam de como Rey muyto nosso amigo fazeer. Por que quamdo virmos que nas cousas de christymdade vos pohendes como boõ e fiell christaão, nam averá cousa em nosos Regnos com que nam follgareemos de vos aproveitar, asy darmas, como bõbardas e todas as outras cousas da guerra, pera cõtra vossos jimigos, de que teemos tamtas como vos dirá Dom Jorge vosso embaixador. As quaeês agora vos nam emviamos, como elle nos requereo, porque a ley de Deus nollo defeende emquanto estaeês [.....]

Muyto vos encomendamos que mandeês abryr vosas feiras e fazer o trauto liuremente, e asy beem como seenpre se fez e mãdees fazer os rezgates com seus navios lyuremête e asy beem como de vós e da vosa amjzdade o esperamos; e muyto vollo gradeçeremos, neem se seguirá a vós e a vosa teerra de asy o fazerdes se nã todo o beem e proveito; e o dito noso secretario, por ser pesoa muyto chegada a noso serujço, requererá sêpre amte nós todas as vosas cousas e nós lhas teemos emcarregadas e emcomêdadas.

Scripta ê Allmeirim, a XX dias do mes de novenbro de 1514.

20-11-1514 King Manuel: to Ruy Leite, on sending vestments with the priests — ATT-CC-I-16-117 (MMA, I, 324-5)

Nós el Rey mamdamos a vós Ruy Leite, Recebedor do tysouro de nosa casa e ao spriuam de voso oficio, que das vestimentas de seeda que estam feytas em noso tysouro, emtregueis duas dellas com suas aluas e com todos seus corregymentos e de todo comprydas, a Bastiam de Vargas, Recebedor do tesoureiro da Casa da Mina. E mais huuma capa de chamallote dallguũa cor que vos bem parecer, que tudo hé pera hyr ao Beny, e leuarem os clerigos que lá emviamos. E se estas cousas nam ouuer fectas no tysouro, mamdamosvos que loguo as talhees e façaes das sedas que vos bem pareçer, asy do preço como da cor e tambem de chamalote, e todo emtregay asy comprydo ao dito Bastiam de Vargas; e o bispo de Çafy benzerá e sagrará as ditas vestymentas; e encomemdamosvos que se faça yso com diligençia, por que há logo de partyr o nauio em que vaão os ditos clerigos. E por este aluará, com conhecimento do dito Bastiam de Vargas, feyto pello escripuam de seu oficio, em que declare como hé tudo sobre elle carregado em Reçepta e asynado por ambos, mamdamos aos contadores que volo leueem em comta.

feyto em Lixboa, a xx dias de Nouembro, o secretario o fez 1514.
a) Rey -

duas vestimentas de seda comprydas e hum mamto de chamalote, que Ruy Leite há de emtregar a Bastiam de Vargas, que ham dyr ao Beny.

Recebo Bastiam de Vargas de Ruy Leite duas vestimentas .s. huma de çatim alyondo com sauastro de damasquo preto, com todos seus comprimemtos, forrada de bocassym e framjada de retrós bramco e vermelho, com sua alua. E outra de damasquo de graam com suastro de çatym verde, com dodos seus comprimemtos, forrada de bocasym e framjada do dito retrós, com sua alua; e recebeo mais delle huuma capa de chamalote, com suastro de çatim de Brujes, forrada de bocasym e framjada de retrós, das ditas cores. As quaes duas vestimentas e capa ficam asemtadas em Reçepta sobre o dito Bastiam de Vargas, per mim Joam de Ferreira, espriuam de seu carrego.

em Lixboa, a bj dias de Dezembro de 1514.
a) Bastiam de Vargas.          a) Johão de Ferreira.

20-12-1514 King Manuel: to Ruy Leite, to give clothes to Benin ambassador — ATT-CC-I-19-62 (MMA, I, 342-3)

Ruy Leite. Mamdamosuos que dêes a Pero Baroso, homem preto que veio a nós com cartas delRey do Benym e huũ capuz e huũ pelote de panno de duzemtos reaes o covodo, vermelho ou da cor que elle mais quiser, e hũuas calças de guardalate de preço de clxxx reaes, e huũ gibam de chamalote vermelho. E dailhe tudo feyto e tirado da costura, que lhe mamdamos dar pera se vestir, e sem esperardes por folha, por que asy ouveemos por beem. E por este aluará, com seu conheçimento, mamdamos aos cõtadores que vollo leueem ê cõta.

Feyto ê Almerim, a xx dias de dezembro, o secretario o fez, 1515 - e asy lhe day huũ barrete vermelho.

a) Rey -

Recebio o dito Pero Barroso de Ruy Leyte todo o vistido acima, cõteudo, feyto e tirado da costura e asy barrete uermelho, em xxij de janeiro de bxvj.

a) Jorge + Correa.          a) P. + Barroso.

hũu capuz e pelote de pano de ij reaes o covado e huãs calças de guardalate de clxx o covado e huũ gibam de chamalote vermelho e hũ barrete vermelho, a Baroso, que veeo cõ cartas delRey do Benym, a vosalteza ê Ruy Leite.

Recebido - Y. da Fonseca.

20-10-1516 Duarte Pires to King Manuel, on reaction of Oba to mission — ATT-CC-I-20-118 (MMA, I, 369-70)

O Muj alto e poderoso Rey o prjncepe noso Senhor, a que Deus acrecente seu estado Reall. Senhor, saberá uosa alteza em como Pero Baroso me deu húa carta de uosa alteza, com que mujto folguey por se uosa alteza alenbrar de hum tam proue homem como eu sam; e agora dou conta a uosa alteza da carta que me mandou. Senhor quanto hé o que djzejs que eu sam mujto cabjdo com o Rey de Benjm, é muj grande verdade, porque el Rey de Benjm quer bem a quem lhe dyz bem de uosa alteza e deseja de ser mujto uoso aamjgo e numqua fala em outra cousa senã em cousas de noso Senhor e asy uosas e asy toma tam grande prazer e todos os seus fjdalgos e suas gentes, o qual uosa alteza o saberá cedo e o bem que nos faz o Rey de Benjm e por amor de uosa alteza; e asy nos cata mujta onrra e nos poem a comer com o seu filho à mesa e ninhũa cousa do seu paço nos nã esconde, senã tudo as portas abertas.

Senhor, quando estes padres chegaram aa Benjm foy o prazer do Rey de Benjm tanto que o nã sey contar e asy de toda sua gente; e logo mandou por eles e estyueram com ele hum anno todo na guerra os padres e nós lhe lenbrauamos a embayxada de uosa alteza e ele nos respondja que era mujto contente dela, mas porquanto estaua na guerra que nã podja fazer nada ata nhyr a Benjm, porque pera hum tam grande mjsterjo como este auja mester uagar; tanto que fose em Benjm ele conprjrya ho que tjnha prometjdo a uosa alteza e que ele farja com que dese mujto prazer a uosa alteza e asy a todo uoso Reyno; e asy a cobo de hum anno, no mes dagosto, deu el Rey seu filho e asy os dos seus fydalgos os mayores que auja em seu Rejno, que os fyzesem crystãos; e asy mandou fazer hũa jgreja em Benjm e os fjzeram logo crystãos; e asy os ensynam a ler, do que uosa alteza saberá que aprendem muito bem; e asy Senhor espera o Rey de Benjm de acabar este uerã sua guerra e nos jrmos pera Benjm e de tudo o que se pasar darej comta a uosa alteza.

Senhor, eu Duarte Pirez e Johão Sobrynho, morador na jlha do Prjnçepe, e Grygoryo Lourenço, omem preto, cryado que foy de Francysquo Lourenço, e todos tres estamos em serujço de uosa alteza e temos postas as cabeças por uosa alteza ao Rey de Benjm e damdolhe comta de quam grande Senhor uosa alteza hé e quam grande Senhor o podejs fazer.

fejta nesta guerra, aos xx dias doutubro, da era de mjll e bo e xbj.
Duarte + Pirez.


1517 mission to Benin 24-8-1517 João Fialho to António Carneiro: three priests sent from São Tomé Senhor, a esta vossa jlha chegou frey Diogo Bello bespora de SantEspirito e elle foy reçebido com toda a crerezia e pessoas que nella auja cõ grande festa, por trazer ha santa cruzada; o qual nella esteue atee oje, que sam xxiiij dias dagosto, omde vay a camjnho de Benjm em ho vosso naujo sam Pedro que eu fíz de nouo de todo, sem ficar huũ soo paão, e nũca outra viajem fez senam esta; e elle foy bem reçebido e agaselhado, como vossa mercê me mãdou e me pareçeo que ele harrecadou dos defuntos que nom fezerõ testamêtos [...], de terços pasante de çê mill reaes ê denheiro e perto de xl peças, o qual dinheiro e peças leixou nesta jlha atee sua vimda de Benjm. E leuou Senhor cõsiguo tres padres, principallmête o Jeronjmo Priez que eu tynha sprito a uosa merçê que fycaua por capelam e cura, he que o pouo o espreuya a uosa merçê por ser boõ, ê que ele cõfiaua, era pera o ajudar; e asy tornou a leuar [...] Jeañes crerigo, que era vimdo de Benjm; e çerto ele vay cõ tall preposyto de fazer elRey cristaão, ajnda que este nõ se gouerna, mas somente por dous outros seus capitãaes, por ser moço e estar sob seu poder; assim que vosa merçê deue mandar capellão pera lhe pregar e estar na jlha, por que este nõ sey quando virá; nõ digo a uosa merçê mais, solamente que este [...] por via do vysytador êtrou hũu pouco forte nas cousas da jgreja e dando a êtemder que nynguê nõ tinha nela poder somente ele e o bispo do Fumchall, e outras coussas que nom hé neçesareo espreuello; ao presente, a jgreja fyca fasemdose de nouo de paao bramco e a ordeney mayor do que era por que, como já espreuy a uossa merçê, todo o tauoado vermelho que tynhamos see queymou; elle apanhou todo o denheiro que ficou per morte da Catarina dAgujar, que vosa merçê mandou que esteuese quedo, dizemdo que por que leixara todo que se despemdese por sua alma, pertençia á santa cruzada e nõ digo este, mas o que leixou pera nosa Senhora quer tomar, e cõ todo fycou asy por ser despesso ê cousas de nosa Senhora e espritall desta jlha. sprita oje, xxiij dias dagosto de 517 O seruo de uosa merçê a) Y.o Fialho. No verso: de Joham Fialho, que veyo por via da Mina. Endereço: Pera o muyto vertuosso Senhor, ho Senhor António Carneiro etc. sacretareo del Rey noso Senhor. 27-8-1517 António Pires to António Carneiro Á partyda de Sam Vicente chegou frey Dyogo Belo, Vygaryo da Jlha de Samtomé, com a cruzada, como vosa mercê lá saberya e cruzou bem os avemtayros que achou e muyto mylhor dos que morreram bem testado e os nom achou. E nysto Senhor emtrou a fazenda de Joam dAguyar e nom maproueytou dyzer que hera de uosa mercê e que elRey lhe fezera mercê dela; a ysto Senhor proueya vosa mercê como for su seruyço. E de todas as peças lhe vyeram noue com duas cryamças. E a sorte da cruzada foy a comenos, aynda que o Vygaryo tynha grandes deseyos dauer dous carpymteyros que seruem vosa mercê, muyto bons. E asy ouue do dynhero dez myl reis. E ysto hé da quymta parte. E o Vygaryo Senhor d z que se vosa mercê tem algũa prouysam que lho mãde dyzer e que emtam se tornará tudo, aynda que ele nom espera senam que parese allgum navyo dos ryos pera a Jlha de Samtomé pera mãdar todas estas peças. E cuydo que nom hera menos, vyndo amtes de sua partyda pera Beny, aynda que esta ya bem acerca. Por que Senhor há dyr em sam Pedro que estava em esteleyro e se lamçou ao mar a xb deste agosto e se partyrá prazemdo a Deus no fym. E por yso Senhor me parece que fycaram aquuy até sua tornada. Por yso ordene vosa mercê como quer que se faça, porque por menos dysto sam as excomunhoes tamtas que faz medo ao maes sem vosa mercê o ordenar e mãdar e as peças passam jagora de trymta e o dynheyro de nouemta myl reis. Item os navyos Senhor andam agora muyto bem aparelhados e chegou de Beny a oyto deste agosto a Oliueyra cõ cemto e setemta peças darmaçam. E asy Senhor dyse a Joam Fyalho que vosa mercê mãdaua que lhe resgatase todo o marfym que podese e trouxe cemto e oytemta demtes por myl e seys cemtos e xxiij marcos, que hé pouco menos de resgate de hûa peça...



Failure of these missions


João de Barros: King not converted; slave trade bannedAsia, decada I, 54, ch. 3 (MMA, I, 53-55)

E porque este Reyno de Benij era perto do Castello de S. Jorge da Mina, e os Negros, que traziam ouro ao resgate della, folgavam de comprar escravos pera levar suas mercadorias, mandou ElRey assentar feitoria em hum porto de Benij, a que chamam Gató, onde se resgatavam grande numero delles, de que na Mina se fazia muito proveito, porque os mercadores do ouro os compravam por dobrado preço do que valiam cá no Reyno.

Mas como ElRey de Benij era mui subjecto a suas idolatrias, e mais pedia a os Sacerdotes por se fazer poderoso contra seus vizinhos com favor nosso, que com desijo de Baptismo, aproveitáram mui pouco os Ministros delle, que lhe ElRey lá mandou. Donde se causou mandallos vir, e assi aos Officiaes da Feitoria, por o lugar ser mui doentio; e entre as pessoas de nome, que nella falecêram, foi o mesmo João Afonso d'Aveiro que a primeiro assentou. Porém despois per muito tempo, assi em vida delRey Dom João, como delRey D. Manuel, correo este resgate de escravos de Benij pera a Mina: cá ordinariamente os navios, que partíram deste Reyno, os hiam lá resgatar, e dahi os levavam á Mina, té que este negocio se mudou por grandes inconvenientes que nisso havia. Ordenando-se andar hum caravelão da Ilha de S. Thomé, onde concorriam assi os ascravos da costa de Benij, como os do Reyno de Congo, por aqui virem ter todalas armações, que se faziam pera estas partes, e desta Ilha os levava esta caravela á Mina.

E vendo ElRey D. João o Terceiro Nosso Senhor, que ora reina, como esta gente pagã, que já estava em nosso poder, tornava outra vez ás mãos dos infieis, com que perdiam o merito do Baptismo, e suas almas ficavam eternalmente perdidas, peró que lhe foi dito que nisto perdia muito, como Principe Cristianissimo, mais lembrado da salvação destas almas, que do proveito de suz fazenda, mandou que cessasse este trato delles. E per este modo ficáram mettidos em o conto dos fieis da Igreja mais de mil almas, que cada hum anno ante deste sancto precepto eram postas em perpétua servidão do demonio, ficando gentios como eram, ou se faziam Mouros, quando per via do resgate, que os Mouros fazem com os Negros da provincia de Mandiga, os haviam a seu poder. A qual obra por ser em seu louvor, Deos deo logo o galgardão a ElRey; porque como elle antepoz a salvação das almas destes pagãos ao muito ouro, que lhe diziam perder no resgate destes escravos, abrio-lhe outra mina abaixo da cidade [de] S. Jorge, donde começou a correr té hoje grande cópia d'ouro, o somma do qual importa mais do que se havia por venda dos escravos.


1538-9 mission to Benin


3-8-1539 Missionaries to João III — ATT-CC-I-65-67 (MMA, II, 79-82)

Dizem os padres .s. Mestre Miguel do habito, frei Antonio e frei Francisco da ordê de sã Francisco que V. A. mãdou ha Beny, pera êformaçã da cõçiençia e cousas da nossa sancta fee catholica ao dicto Rey, dõde stam há hũ año e passaa, que fazê saber a V. A. nã terê cõfiaça algua nê argumentos de presumpção de ho dicto Rey se cõverter ha Christo, mas es agora perseuerar ma s ê seus sacrifiçios humanos: jdolatrias, uocações diabolicas: asi de dia como de noute e ê dar sua raçã cotidianamente duas vezes no dia ao Jmigo do homê que hé ho diabo, mais que nũca, pera as quaês cousas alguãs vezes nos mãdou chamar, e se untava cõ ho sangue humano, e outras muytas superstiçoês, abomjnaçoês e errores, que tem.

ho noso recibymento nã foy cõ muyto cõtêtamento, por saber que lhe nã traziamos dadiuas temporaês: desistimâdo as sprituaês, nê nũca fez delias ha cota que diuera: se as bem conhecera, e ha merçê que V. A. njsso lhe fazia sua carta, que beijado ha a põdoa sobre nossas cabeças cõ muyto acatamento lhe deemus, nã reçebeo como diuera e ha lãçou ê hũa coquina ou caxeta que tinha ao lado esquerdo, dõde a nõ abrio senã day ha tres meses, pera o que nos chamaram; pos nos per ospedes ê casas de gêtios cõ muytos idolos e feitiçeiros e guardas sobre nós, dõde todos passã per çima de nós, de noute e de dia, dõde pollos muytos estorvos, brados e jnquietaçoês nã podemos rezar nosso officio diuino; ho nosso todo roubado, e dos seus muj mal tratados e jnjuriados.

pregamos lhe as cousas da fee e seu perigoso estado, per õde nos avorreçeo tãto que há muyto que nos nvee, he se pera isso pomos alguã diligêçia cortanos as raizes, e se ao paço jmos, mãdanos fechar as portas e, quod peius est, jaa os seus se per elle nã sabemos, nos dã cõ as portas nos foçinhos e puserã as maõs çertas vezes; ha nossa vida hé vêder todo quanto trouxemos pera saluarmos ha vida da fame que hé tata asy per a esterilidade deste año, como pela pouca e nenhũa caridade nê subsidio algũ que dalgũa parte tenhamos, saluo de v. a. e ajnda esse nos roubarã os frãçeses todo ho ordenado do año passado, que nos nauios do trato, que roubarã, nos vinha, asi que per estes respeitos e outros muitos, lhe pedimos que nos alargasse ha jda com resposta da carta de v. a. e ele nola negou e disse que nã aviamos de hir de qua sem êbaixador de v. a. cõ carta sua, e quer dizer que estamos per seus cativos e asi ho hé pollas guardas que sobre nós tê e na podermos sair da çidade, cõ as quaes cousas e outras e cõ ha fame que padeçemos per onças nos mata, e per lhe nã querermos pedir nada, sabêdo ele nossas necessidades, e se lhe dezemos que nos roubã, diznos pubricamente que mêtimos diante de todos.

As cartilhas de v. a. que lhe offereçemos para os moços, nã as quis tomar, mas antes deffêdeo